sábado, 13 de dezembro de 2014

E as suas dores são só suas...

Durante muito tempo sempre fui dependente de outras pessoas.
Sempre tive medo de estar sozinha e terminar sozinha.
A gente vai crescendo e a vida se encarrega de nos levar por alguns caminhos que nos ditanciam de algumas pessoas e nos aproximam de outras.
E o passado vai apertando o coração de vez em quando.
Quando coisas ruins acontecem sempre busquei aquele colo que no passado estava ali e que ficou lá pra trás e isso me doia mais ainda, pois nesses momentos me via mais sozinha que nunca.
Passados mais de 5 anos nessa nova caminhada, o coração já não aperta tanto e os colos já não fazem tanta falta.
A gente aprende que ser gente grande é chato mesmo e que a vida é uma bosta e só o que a gente pode fazer é aproveitar ao máximo os momentos de bem estar e felicidade que nos aparecem.
E quando a coisa não estiver boa, é preciso saber... Ninguém vai chorar suas lágrimas e gritar seus gritos.
No final das contas nenhum colo acalenta... É preciso se conformar.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Aprenda a valorizar as pessoas!

Algumas pessoas simplesmente vem e ficam, mesmo que a gente mande ir embora da nossa vida, elas são persistente e insistem em ficar. Algumas pessoas realmente valem a pena e fazem a gente perceber o quanto nos amam e querem o nosso bem, não importa o parentesco. Amigo, irmão(a), namorado(a), não importa se a meta é nos fazer feliz.
É esse tipo de pessoa que vale a pena investir, dar valor, cuidar, dar carinho, apoiar, amar e retribuir de alguma forma que os deixe feliz.
As vezes por orgulho e medo, acabamos se afastando dessas pessoas e um dia elas acabam cansando de serem maltratadas e machucadas, que deixam a gente sair da vida delas. Mesmo amando, ninguém é obrigado a sofrer por alguém só porque ama.
Temos que aprender a separar o que é bom do lixo. o que faz bem do que faz mal. o que realmente importa e faz diferença do que só atrapalha a sua vida e atrasa.
O tempo passa e vamos ficando velho, vamos cansando e ficando mais fracos, mas quando temos alguém que sempre nos da força, vale a pena envelhecer e passar o tempo do lado dessa pessoa.
O que sempre falo que temos que fazer é nos amar mais, mas nunca deixar de amar o próximo e quem sempre nos apoia, porque se você se ama e ama quem te ama, nada mais importa e é ai que está a sua felicidade. Amar e ser amado, cuidar e ser cuidado, respeitar e ser respeitado, dar valor e ser valorizado.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

NERUDA

Talvez 
Talvez não ser,
é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando
o meio dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém 
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
sem que sejas, enfim,
sem que viesses brusca, incitante
conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo do vento,
E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos...
E por amor
Serei... Serás...Seremos...” 

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Encerrando um ciclo - Paulo Coelho

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final.
Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.

Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos ...não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que á se acabaram.

Foi despedido do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais?
Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?

Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu. Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas tão importantes e sólidas em sua vida a serem subitamente transformadas em pó.

Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seu marido ou sua esposa, seus amigos, seus filhos, sua irmã. Todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante... e todos sofrerão ao ver que você está parado.

Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco. O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar. As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora.

Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem. Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está contecendo em nosso coração e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar. Deixar ir embora... Soltar. Desprender-se.

Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto, às vezes ganhamos e às vezes perdemos. Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar 
sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando e nada mais.

Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do momento ideal. Antes de começar um capítulo 
novo é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou jamais voltará. Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa . nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade. Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.

Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era e se transforme em quem é.

Ame-se ... muito e sempre!!!

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A ESCOLHA DE UM AMIGO - Oscar Wilde

Escolho meus amigos não pela pele
ou outro arquétipo qualquer,
mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador
e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito
nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim
louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias
e aguentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero-os santos, para que não duvidem
das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela cara lavada
e pela alma exposta.
Não quero só o ombro ou o colo,
quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim:
metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis
nem choros piedosos.
Quero amigos sérios,
daqueles que fazem da realidade
sua fonte de aprendizagem,
mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice.
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto
e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios,
crianças e velhos, nunca me esquecerei
de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

sábado, 2 de agosto de 2014

Cio - Bruna Lombardi

Quero dormir com você ou pelo menos
Te dar um beijo na boca
O meu amor não tem pudor, nem acanhamento
Não tem paciência, não agüenta mais
A urgência do desejo
E eu te olho, te olho, te olho
Como se dissesse.

Penso, ele há de perceber, me encosto um pouco
Espero um gesto, um sinal, uma atitude
Que eu possa interpretar como uma resposta,
Uma indicação,
Mas você é um homem sério e continua
Se escondendo atrás dessas teorias
E nem te brilha no olho uma faísca de tentação.

Aí que aflição
Pensar no que eu faria
Se pudesse.

Desejo que não acontece
Fica parado no peito
Aí vira obsessão.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR

Oswaldo Montenegro - Metade





Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca; 
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza;
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada 
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta 
A um homem inundado de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso 
Mas a outra metade é um vulcão...

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria 
para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...

E que a minha loucura seja perdoada 
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Cora coralina

Lindo demais
Coração é terra que ninguém vê 

Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Sachei, mondei - nada colhi.
Nasceram espinhos
e nos espinhos me feri. 

Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Cavei, plantei.
Na terra ingrata
nada criei. 

Semeador da Parábola...
Lancei a boa semente
a gestos largos...
Aves do céu levaram.
Espinhos do chão cobriram.
O resto se perdeu
na terra dura
da ingratidão 

Coração é terra que ninguém vê
- diz o ditado.
Plantei, reguei, nada deu, não.
Terra de lagedo, de pedregulho,
- teu coração. Bati na porta de um coração.
Bati. Bati. Nada escutei.
Casa vazia. Porta fechada,
foi que encontrei...


sábado, 19 de julho de 2014

Divagando...

E eu ainda me surpreendo com a postura das pessoas e a retórica da vida! ... 

A verdade é que não sei porque me espanto, afinal, é sempre tudo tão previsível que até o mais desatento dos seres notaria os passos vagos, a alma vazia e as atitudes displicentes de quem tanto forjou para encantar e manipular ao próximo que hoje cai nas armadilhas de seu próprio jogo.

Beira a incredulidade.  

Começo a ponderar sobre algumas conversas aleatórias e chego a conclusão de que é necessário mudar a perspectiva para que não se perca a esperança na humanidade!

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Marla de queiroz...

"Abraço é coisa tão séria que não se empresta, se dá. E quando os corpos se encostam, todos os chakras se tocam. Abraço é coisa tão séria que junta os dois corações: pode ecoar para sempre ou esvaziar por inteiro. Pois quando a gente abraça, traz para dentro a pessoa: com bagagem, passado, infância, viagens e o principal: seu perfume espiritual. E o que recebemos nem sempre é o que damos, por isso alguns são afagos que nutrem por um longo tempo e outros, desespero pra matar a fome, um devoramento. Recuso abraçar levianamente, abraço com meu enrosco de afeto demais, amor puro, corpo colado para o abraço ser sentido, ter sentido. Abraço que é de verdade pode até ser dado de longe, pois ultrapassa as esferas e desconhece distâncias, é todo feito de encontro. Abraço é coisa tão séria que há de ser doce, leve, divertido, espontâneo, mesmo quando acalanto, colo ou celebração. A gente agarra por impulso de carinho porque a sintonia é a mesma. E quando o abraço termina, quando ele é dado de graça, fica a cosquinha no peito, uma brisinha na alma e a harmonia instalada."

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Salve vinicius

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento. 

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa dizer do meu amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Salve vinicius

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento. 

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa dizer do meu amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Os quartos - Fellipe Cosme

O quarto fecha-se na noite gelada,
há milhares de outros quartos
numa humanidade de quartos gelados,
há uma humanidade de humanidades
que se fecham na noite gelada.

os quartos parecem tristes,
mas não são tristes, apenas parecem tristes.
eles não nos enxergam, não nos vêem
com nossas cabeças quadradas,
com nossas almofadas gigantescas,
com nosso suor feito com o vinho do Porto.
vêem-nos felizes, pois somos felizes,
ninguém além dos quartos nos vê desse jeito,
por isso somos feitos para os quartos.

nos quartos, há os sonhos,
há as melodias que se entreolham
há a militância de um silêncio vagaroso,
há a água sugada pelo ar-condicionado,
há as plantas, há os livros, há o teto,
há milhares de passarinhos sussurrando de plantão.

não há nos quartos as pessoas.
as pessoas estão fora,
buscando comida para os quartos,
buscando mais pessoas para os quartos,
em outros quartos talvez
ou em lugares fechados maiores do que quartos,
talvez mais tristes ou mais alegres,
talvez com outros nomes,
diferentes de quartos,
mas estar no quarto e ver-se de dentro, é ser um sonhador,
é caçar na melodia do silêncio uma resposta,
e nada pode impedir-nos de sonhar com outros quartos.

nas noites geladas desta humanidade,
enxergar-se em todos os quartos
de todos os quartos
e ver-se entrando e saindo calado ou gritando, 
com um sol ou na pura escuridão do tempo
que estiver rugindo,
com pétalas para enterrar ou roupas
para acariciar a vida que nascerá em dias,
com um beijo cálido da namorada doente
ou uma cicatriz de doença de amor,
entrar e sair, jamais se esquecer do quarto ao sair.
no quarto das horas imprecisas,
dos momentos difíceis ou fáceis,  
das pedras ou montanhas ou cascatas,
da neve ou tempestade que entra pelas frestas da janela,
dos meninos que olham pra dentro
e só vêem um quarto,
das ruas que se embaralham
nas outras ruas de todos os mundos,
onde há quartos para todo mundo,
onde há mundo para todos os quartos.

sábado, 28 de junho de 2014

Razão de ser - leminski

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?


segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

SAUDADES DE NÃO SEI O QUE - Ana Angelica Martins

Pensei bem e decidi: vou largar a barra da saia da mamãe. Deixar pra trás  a cama sempre arrumada, as roupas limpas, o leite no pires. Não quero mais  ganhar presentes sem merecer, nem afagos a qualquer hora do dia. Me cansei dessa vida  de filho único. Estou com saudades de não sei o que, só sei que é de coisa que não vivi

Não quero mais gastar meus dias entre livros. Não quero mais perder a noção do tempo, imerso num mundo que não é o meu. Preciso descobrir o que existe do outro lado, sentir o perigo de perto. Quero sentir medo. Quero sentir paixão, ter o sangue pulsando agitado, das pontas dos pés até as orelhas.

Quero a prova de que tudo que eu ouço é verdade. Quero experimentar novos sabores... azedos demais, salgados demais, amargos... Preciso de um corte no dedo que cicatrize sem curativo. Preciso esperar no ponto por um ônibus que não vai chegar nunca. E quando todas essas coisas já forem rotina pra mim, vou correr na chuva, chorar ouvindo uma música, pegar um resfriado, ficar na cama sentindo a solidão, esperar telefones que não vão acontecer.

Mas, quando a felicidade me pegar de jeito, vou senti-la plenamente em cada poro, em cada célula do meu corpo. E celebra-la, como se eu pudesse ser o último no mundo a senti-la. Abro os braços, inspiro fundo e me lanço da janela. Quatorze metros e meio até o chão. Restam seis vidas.