há milhares de outros quartos
numa humanidade de quartos gelados,
há uma humanidade de humanidades
que se fecham na noite gelada.
os quartos parecem tristes,
mas não são tristes, apenas parecem tristes.
eles não nos enxergam, não nos vêem
com nossas cabeças quadradas,
com nossas almofadas gigantescas,
com nosso suor feito com o vinho do Porto.
vêem-nos felizes, pois somos felizes,
ninguém além dos quartos nos vê desse jeito,
por isso somos feitos para os quartos.
nos quartos, há os sonhos,
há as melodias que se entreolham
há a militância de um silêncio vagaroso,
há a água sugada pelo ar-condicionado,
há as plantas, há os livros, há o teto,
há milhares de passarinhos sussurrando de plantão.
não há nos quartos as pessoas.
as pessoas estão fora,
buscando comida para os quartos,
buscando mais pessoas para os quartos,
em outros quartos talvez
ou em lugares fechados maiores do que quartos,
talvez mais tristes ou mais alegres,
talvez com outros nomes,
diferentes de quartos,
mas estar no quarto e ver-se de dentro, é ser um sonhador,
é caçar na melodia do silêncio uma resposta,
e nada pode impedir-nos de sonhar com outros quartos.
nas noites geladas desta humanidade,
enxergar-se em todos os quartos
de todos os quartos
e ver-se entrando e saindo calado ou gritando,
com um sol ou na pura escuridão do tempo
que estiver rugindo,
com pétalas para enterrar ou roupas
para acariciar a vida que nascerá em dias,
com um beijo cálido da namorada doente
ou uma cicatriz de doença de amor,
entrar e sair, jamais se esquecer do quarto ao sair.
no quarto das horas imprecisas,
dos momentos difíceis ou fáceis,
das pedras ou montanhas ou cascatas,
da neve ou tempestade que entra pelas frestas da janela,
dos meninos que olham pra dentro
e só vêem um quarto,
das ruas que se embaralham
nas outras ruas de todos os mundos,
onde há quartos para todo mundo,
onde há mundo para todos os quartos.
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