sábado, 30 de maio de 2015

A arte de amar outra vez - Camila Heloise

Seria realmente uma pena se aquela história de que só se ama uma única vez na vida fosse realmente verdade. Não é. Se você não amou mais ninguém em sua vida é porque alguma outra coisa aconteceu e isso não significa que amar de novo seja impossível ou improvável (me ajude a acreditar nisso).
Ama-se milhões de vezes enquanto o coração estiver disposto e batendo. A menos que se escolha passar a vida usando uma casca grossa que impeça a entrada de qualquer novo sentimento – e sentido. Se você tiver coragem, irá se apaixonar novamente. Isso porque só a coragem nos faz saltar de olhos fechados sem pensar até que ponto aquilo vale a pena. Já me vi tantas vezes covarde no espelho como se o amor fosse um monstro que fosse me passar a perna. E por que nem sempre nos entregamos?
Por que amar outra vez é como aprender a andar de novo. Além da delícia da descoberta de que você pode ir e vir com suas próprias pernas e escolhas, existe o medo de quebrar a cara no chão e também a tremenda falta de equilíbrio. Amar outra vez exige uma entrega que também exige que você deixe de analisar todas as coisas. E, ao invés de imprimir razão em tudo, coloque um bocado de emoção e sentimentos para temperar o coração e suas atitudes. É muito mais difícil do que da primeira vez, porque se você está na segunda tentativa, é porque a primeira deu certo até certo ponto e depois deixou de existir.
Já cheguei a pensar que talvez amar novamente signifique aceitar que a vida é um abismo onde você nunca encontrará o chão, e eu não gosto de viver caindo. Ou que fosse algo arriscado demais e meu coração deixou de ditar as ordens, quem manda agora é o cérebro (triste escolha). Não é nada disso. O que nos impede de começar talvez seja apenas porque estamos prestando atenção demais nos detalhes, com aquela velha mania de organizar tudo e deixar tudo perfeito como se isso fosse o mais importante. A perfeição e a organização não fazem parte de um amor de verdade. O amor cria seus próprios espaços e bagunças e é bem aqui que está toda a beleza.
Amar outra vez exige que você se aceite um pouco mais vulnerável do que antes, para descobrir a força que esse sentimento possui. É baixar a guarda para as coisas que você não entende. É perceber que comparar pessoas é uma estranha mania de morrer de solidão mesmo estando acompanhado.
O segundo amor vem sempre em desvantagem. Descontamos nele as expectativas frustradas do primeiro. Cobramos em dobro. Suportamos numa porcentagem bem menor as coisas que já não suportávamos antes. Desistimos mais rapidamente. Mandamos a esperança embora mais cedo.
Amar de novo é persistir. Compreende abandonar os velhos vícios e sonhos de conto de fadas para viver de verdade (e descobrir que isso pode ser incrível).
Não se limpa os olhos para enxergar o segundo amor como se fosse o primeiro. E não existe um comprimido do esquecimento que apague o que vai na sua bagagem de antigos relacionamentos (infelizmente). Por isso é tão difícil. Mas não é impossível.
Se não souber o que fazer, apenas se deixe ser amado. Se a outra pessoa vier munida de uma coragem que você ainda não possui, deixe que ela te leve e que seu coração valente dite as regras. Permita sentir algo de que você já se esqueceu de como é que se entrega.
Já dizia aquela velha canção (que só agora eu entendo)… “Saber amar, é saber deixar alguém te amar”.

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